Kanban: Das Origens no Sistema Toyota de Produção à Agilidade Moderna

O método Kanban, que significa "etiqueta", "sinais" ou "quadro de sinais" em japonês, surgiu no Japão, no Sistema Toyota de Produção (STP), após a Segunda Guerra Mundial. Imagine um supermercado: você pega o que precisa da prateleira, e o supermercado sabe que precisa repor aquele item. Taiichi Ohno, um dos pais do STP, observou esse sistema nos supermercados americanos e pensou: "Por que não fazer o mesmo na fábrica?". Assim nasceu a ideia do Kanban, adaptando a reposição por demanda para a produção industrial.

No STP, o Kanban funciona como um "sinalizador". Pense nele como um pedido ou uma autorização visual. Ele diz quando produzir mais ou quando mover peças de um lugar para outro, sendo crucial para o sistema Just-in-Time (JIT) - produzir apenas o necessário, na hora certa. A forma mais comum era um simples cartão, geralmente protegido por um plástico, contendo informações sobre o que fazer: coletar, transportar ou produzir.



Existem basicamente dois tipos principais de "sinais" Kanban:

  • Kanban de Retirada: Avisa que é hora de buscar ou transportar peças.
  • Kanban de Produção: Dá a ordem para um processo produzir uma quantidade específica de um item.

Como o Kanban funcionava na prática na Toyota?

  1. Kanban com Carrinhos de Transporte: Na fábrica principal da Toyota, usavam carrinhos com capacidade limitada. O carrinho em si, associado ao cartão Kanban, funcionava como um sinalizador ainda mais eficaz. O Kanban sempre acompanhava os produtos no carrinho, servindo como a comunicação essencial para o JIT. A criação de instrumentos como esses carrinhos mostra como os princípios do Kanban podem ser aplicados de forma criativa para controlar o fluxo e evitar excessos.
  2. Kanban com Correntes Transportadoras: Em outras fábricas, utilizavam correntes transportadoras, como aquelas usadas em linhas de pintura. Nenhuma peça podia ser pendurada na corrente sem um Kanban no gancho. Indicadores (os Kanbans) mostrando as peças necessárias eram fixados aos ganchos em intervalos regulares. Isso garantia que os erros de tipo, quantidade ou tempo fossem eliminados, estabelecendo uma entrega e retirada regular de peças e mantendo a produção sincronizada pela circulação desses "sinais" junto com a corrente.

Esses exemplos mostram que o Kanban não era apenas um cartão, mas um sistema de controle visual e físico integrado ao fluxo de produção.

O Kanban é a ferramenta central que faz o STP funcionar suavemente. Como vimos, o STP é um sistema "puxado": o processo seguinte busca o que precisa no processo anterior, como o cliente pegando o produto na prateleira do supermercado. O Kanban é o mensageiro dessa informação.

Uma das funções mais importantes do Kanban é evitar a superprodução, que é vista como um grande desperdício no pensamento Lean e no STP. Ao introduzir o Kanban, a Toyota conseguia identificar desperdícios rapidamente. Ele também se tornou uma ferramenta poderosa para otimizar o uso da mão de obra, reduzir estoques e eliminar produtos defeituosos.

Kanban e as Metodologias Ágeis

Avançando no tempo, a simplicidade e eficácia do Kanban inspiraram novas formas de trabalho, especialmente no mundo do desenvolvimento de software e gestão de projetos com as metodologias ágeis.

Atualmente, o Kanban é amplamente utilizado em abordagens ágeis, muitas vezes lado a lado ou como alternativa ao Scrum. Enquanto o Scrum organiza o trabalho em ciclos fixos (Sprints), o Kanban foca em manter um fluxo contínuo de trabalho, limitando a quantidade de tarefas em andamento para evitar gargalos. Ele não prescreve papéis ou cerimônias rígidas como o Scrum, oferecendo mais flexibilidade.

As metodologias ágeis utilizam os princípios visuais e de fluxo do Kanban para:

  • Visualizar o Trabalho: Criar um quadro (físico ou digital) onde todos podem ver as tarefas e seu status (Ex: "A Fazer", "Fazendo", "Feito"). É como ter um mapa do trabalho da equipe.
  • Limitar o Trabalho em Andamento (WIP - Work in Progress): Definir um limite máximo de tarefas que podem estar na coluna "Fazendo" ao mesmo tempo. Isso evita que a equipe comece muitas coisas e não termine nada, focando na conclusão. A ideia é "parar de começar e começar a terminar".
  • Gerenciar o Fluxo: Observar como as tarefas se movem pelo quadro ajuda a identificar onde o trabalho empaca (gargalos) e a buscar formas de melhorar continuamente o processo.
  • Priorizar Tarefas: Organizar as tarefas dentro das colunas, geralmente com as mais importantes no topo, para que a equipe saiba no que focar a seguir.


O Kanban moderno, assim como seu ancestral na Toyota, é flexível. Ele permite começar com o processo atual e fazer melhorias incrementais, em vez de exigir uma mudança radical imediata.

Em resumo, o Kanban, que nasceu nas fábricas da Toyota como um sistema de cartões e sinais visuais para controlar a produção, evoluiu para uma poderosa metodologia de gestão de fluxo de trabalho. Seja controlando peças em uma linha de montagem ou tarefas em um projeto de software, seus princípios de visualização, limitação de trabalho em progresso e melhoria contínua ajudam equipes a entregar valor de forma mais eficiente e adaptável.

Postagem Anterior Próxima Postagem